Sou dois, ao mesmo tempo que sou apenas um.
O corpo sente, vê, come, cheira. Corpo este que ancorado por uma parte do cérebro toma decisões mais emocionais (exemplo: comer uma barra de chocolate quando estou muito entediado) ou mais racionais (exemplo: não vou beber hoje com a galera, pois amanhã preciso levantar cedo e estar bem). Chamo esta parte do “eu natural”, certamente influenciado por algum pensador que não consigo me lembrar quem).
Existe uma outra parte de mim, que imagina, que interpreta, que toma ações, que acredita julga, a este chamo de “meu eu”.
O “meu eu”, não pode ser definido pela afirmação do tipo: ele é um cara alegre, estudioso, que gosta de esporte, nem tão pouco pode ser definido pela negação: ele não dorme bem, ele não é pró-ativo, ele não dá o braço a torcer. Isso pois nem sempre sou alegre, estudioso e gosto de esporte, nem tão pouco sempre durmo bem, sou pró-ativo e dou o braço a torcer.
A ideia de ser alguém, é absolutamente transitória, depende de um lapso temporal, que pode ser curto (hoje) ou longo (vários anos).
Portanto, se eu sou eu e ao mesmo tempo não sou eu, o que eu sou? Gosto do pensamento do zenbudismo: nada! Não é niilismo. É nada real. É uma transformação constante! Não tem como definir o Paulo, tem como definir o Paulo agora neste instante que já acabou e que não deu espaço nem mesmo para a tal da definição, no passado era no outro, no futuro será outro ainda.
Se eu não sou nada, que sentido tem a vida? Aí é que a palavra sai de nada para tudo. Pois a vida e o mundo podem ser exatamente o que eu quiser. Sim, o que eu quiser que ela seja. Quem dá significado a algo não é o algo, sou eu.
Final de semana passada eu visitei Ouro Preto, fui na igreja de São Francisco, que tem o teto pintado por Mestre Ataíde! Lindo! Me detive por 10 minutos ali só observando. Há 30 anos atrás eu fui lá, não me lembrava nem que o teto era pintado. É porque esqueci? Não. É porque o Paulo daquela época era um Paulo diferente. A igreja é a mesma, quem mudou?
Só que eu sou um no meio de 8.2 bilhões de pessoas, que são tudo ou nada. Que indistintamente, não só pela impressão digital ou pela iris, tem uma única história e um único contexto.
Se o “meu eu” é infinito e o seu “meu eu” é infinito. Tudo é tudo, nada é infinito!
Se tudo é tudo, nada é infinito o que é então? Não sei… me ocupo com o caminho, não com a chegada e ao me ocupar com este caminho, vivencio o infinito, não no futuro, no presente!
Vou controlando a minha maluquez, misturada com a minha lucidez!