Por vezes, falo e escrevo sobre minha opinião sobre redes sociais. Consegui ao menos temporariamente banir Instagram e Facebook, mas ainda passeio pelo LinkedIn e Whatsapp.
As redes ocupam o tempo deliciosamente. Não tem nada para fazer? Abra o app e movimente os dedinhos de baixo para cima! Dose garantida de dopamina.
Apenas por entender que estas (Instagram e Facebook), ocupavam meu tempo, que poderia estar sendo mais bem utilizado com leituras, esporte e convivência social e que refletiam um mundo ( dos outros também meu) que me parecia tão distante da realidade, decidi parar de usar.
Reconheço a sua utilidade e importantes pessoas que admiro, relataram ótimos exemplos em seu uso. Clovis de Barros Filho usa para atingir gente que antes ele só atingia nas salas de aula da USP. O triatleta André Sanches, citou em um vídeo recente no Youtube, como conheceu um cara bacana que o apoiou quando foi competir na Africa do Sul e isso só ocorreu pois um seguia o outro no Instagram e por lá começaram a trocar mensagens. Tbm tenho em mente o caso de amigos, que através do Instagram, vendem peças e acessórios que são o sustento da família.
Concluo assim, que obviamente há benefícios no seu uso, mas eu, talvez pela minha incapacidade de ser rigoroso com o seu uso e por entender que pelos motivos que citei me causam mais perdas do que ganho, decidi abandoná-las.
Sobre LinkedIn e Whatsapp, ainda luto, quem sabe um dia as abandone também, ou talvez não! Talvez esta seja minha dose limitada de dopamina digital, que assim como a cerveja do final de semana, me permitirei usar, mesmo que me afaste dos objetivos principais. Decisão postergada! Tema para outra oportunidade 🙂
Esta introdução é apenas para compartilhar o que hoje li de Fernando Pessoa, que reflete muito bem meus pensamentos a cerca desta parte do mundo que é mais irreal do que real, mais fantoche do que de verdade.
POEMA EM LINHA RETA
Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das
etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe – todos eles príncipes – na vida…
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos – mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
Autor: Fernando Pessoa, em seu heterônimo: Álvaro de Campos