A canção de Zeca Pagodinho diz: “Deixa a vida me levar, Vida leva eu”. Talvez se eu fosse um cantor, minha canção seria: “Deixa a vida me levar. Levo a vida eu”. O que quero dizer é que em alguns momentos é a vida que nos leva, em outros tantos somos nós quem decidimos como levar a vida!
A culpa é do trânsito?
Quando penso em controlar minhas atitudes, emoções e atuar para levar a vida, uma metáfora que me vem a mente é a do trânsito. Uma pequena história servirá de fundo para minha reflexão:
Saio de casa as 08h para uma reunião de trabalho que iniciará as 09h. Nesta reunião teremos um cliente importante, com possibilidade de fechar o contrato que irá mudar a história da nossa empresa. O trajeto pelo qual passo já conheço de longa data: 30 minutos, no máximo!
Entro no carro, ligo o Waze (GPS) e a estimativa de chegada é exatamente a usual: 08h30. Ligo o som do carro e parto já com ideias e expectativas altas para a tal reunião. 08h25 e já estou há poucos quilômetros do escritório quando noto uma paralisação total no trânsito.
08h50 e continuo no mesmo lugar. Ligo para o cliente informando o imprevisto e aviso que vou atrasar um pouco. 09h e nada mudou. Procuro uma saída marginal e me arrisco passando por cima de um canteiro. Tão logo o supero, enfio o meu carro na lateral de outro que vinha na direção oposta. Batida! Nada grave, felizmente.
Saio do carro puto da vida, xingando o motorista: “você não presta atenção? Não viu que eu estava atravessando? Não podia ter freado?”, eis que ouço, calmamente do outro motorista: “Peço desculpas, mas que tal encostarmos os carros para resolver a situação e não atrapalharmos mais pessoas que assim como nós só querem chegar a seus destinos?”. Encosto o carro, enquanto minha raiva acumulada pelo atraso e pela batida parece uma bomba prestes a explodir.
Respiro fundo, ligo para o cliente me desculpando e cancelando a reunião, com promessas de remarcação e agora, com um pouco mais de calma, resolvo a situação, onde o errado, era sim eu.
Inexoravelmente imutável
Se eu tivesse saído mais cedo eu não teria enfrentado o trânsito e chegado no horário. Se eu não tivesse passado por cima do canteiro eu não teria batido o carro!
O grande ponto é que o “se” não existe na história. Eu não consigo alterar o passado e acredito que esta seja um dos principais motivos de sofrimento. É aqui que o “deixa a vida me levar” faz mais sentido.
O passado, serve como aprendizado para o presente e o futuro, mas ele é imutável, o passado é duramente e factualmente: imutável! Aceitar isso é um grande passo e motivo de aprendizado constante.
É mais fácil falar do que praticar e a forma como busco atuar para continuar aprendendo é lendo, constantemente sobre o assunto. Adquiri um hábito de ler 2 livros. Um deles, sobre um campo de conhecimento qualquer (computação, liderança, fisiologia do esporte, etc) e o outro, é sempre um livro que me aquieta a mente, o que usualmente significa livros sobre meditação, estoicismo, budismo e similares.
Faço isso, pois me parece que controlar a forma como penso sobre passado, presente e futuro é como no esporte, na alimentação e sobre controlar gastos e poupar dinheiro: é necessário ter rotina, disciplina, reflexão e atitude diária. Quando me vejo por um período sem ler a respeito, minha mente começa a ruminar mais, a antecipar o futuro com mais intensidade.
O mesmo raciocínio, entendo, pode ser aplicado em relação ao futuro. Não consigo controlar se irá chover nas férias durante o passeio na praia, portanto, se, chegado o dia, chover, pensarei o que fazer. É triste? É chato? Sim… mas é o que é! Ou eu procuro algo para fazer no lugar de ir a praia e aceito a realidade, ou me entedio e não faço nada! Certamente, quando for lembrar desta viagem no futuro as memórias não serão tão boas quanto foram as das férias quando o sol se fez presente, mas… é o que é! Nem tudo é felicidade, nem tudo é como gostaríamos que fosse. É o famoso: aceita que dói menos.