Imagine se apresentando para alguém, seja numa mesa de bar, em uma entrevista de emprego ou mesmo para uma plateia que anseia te ouvir. A forma como você se apresenta, é fruto do que você decidiu fazer e não fruto do que você esperou fazer. Tomemos como exemplo, o meu caso: “Oi, eu sou o Paulo, tenho +40 anos, pai da Laura e Livia, casado com a Carla, trabalho com tecnologia, pratico esportes e dou aula, nas minhas horas vagas gosto de ver documentários e ler livros, a maior parte deles sobre filosofia”.
Ser pai, ser casado, trabalhar com tecnologia, praticar esportes, dar aula, usar o tempo livre para ver documentários e ler livros são atitudes do meu dia a dia, do meu passado, do meu presente e muito provavelmente de boa parte do meu futuro, mas é o que eu faço no presente, e novamente, não o que eu espero fazer, que permitiram narrar o Paulo da forma como o fiz.
É por isso que em muitos livros e palestras, ouvimos: é preciso dar o primeiro passo, seja na dieta, nos esportes, nos estudos, no trabalho ou em qualquer lugar em que a mudança rumo a algo que desejamos se faça presente. O primeiro passo é um ato, não é apenas uma vontade. Querer, desejar, é importante, mas se não ajo, a coisa toda não passou de um exercício mental.
Nada de esperança
“Viva no presente, pois o passado e o futuro são apenas uma ilusão”. Frase motivacional que vemos cada vez mais presente em para choques de caminhão, títulos de videos motivacionais que encontramos no Youtube e conselhos oriundos de amigos e terapeuras. Mas e aí?
Ontem eu meti a cara numa pizza com cerveja e possivelmente mês que vem, com o cenário economico, o risco de estar desempregado é real. Pois é! Triste. Isso não é uma angustia de um outro qualquer, é uma angustia minha, é real!
Daí posso escolher agora: comer coisa saudável e me exercitar para queimar a porcariada que comi ontem e buscar não comprar uma besteira qualquer no Mercado Livre ou na Amazon, pois este dinheiro agora vai pra poupança para enfrentar o possível desemprego…
Ou eu posso esperar, sabotando a mim mesmo (os entendidos chamam isso de dissonância cognitiva) e esperar que amanhã eu não tenha vontade de comer besteira novamente e que o cenário economico melhore, portanto, comprar mais um distrativo agora, não fará diferença.
Note como a palavra “Esperança” usualmente aclamada, apreciada. Note como a palavra Esperança que dá nome inclusive a programa de TV de causa nobre (Criança Esperança), uma palavra que dá nome até a um inseto verde, cujo as crianças aprendem desde cedo a não ter medo, pois se você ver uma Esperança, boa sorte lhe virá, pode ser o motivo de toda uma porcaria futura que a nossa vida pode se tornar.
UAU! É isso: sente, e espere! Tenha esperança. Amanhã de novo, semana que vem, dias melhores virão!
O tom pejorativo, é para reforçar que não tem escolha, a felicidade é feita em ato, em instante, pois se a gente esperar, a chance dela vier sejamos honestos, é minima.
Seja razoável com suas próprias perguntas
Também não busquemos ser os extremados que buscam refutar os argumentos, sem antes ser razoável com a própria pergunta, não entremos no campo da dissônancia cognitiva para buscar razão para atos que queremos recusar a fazer com vistas a dar voz as nossas crenças.
O que quero dizer, é que o argumento usado por muitos é: “Esta história de viver no presente, é para monjes budistas, que passam uma vida sem nunca experimentar uma cervejinha”.
Ao minimizar o comportamento do próximo, a gente maximiza os nossos para continuar não fazendo o que tem que ser feito, mas o ponto principal não é este. O ponto principal é que estamos sim no presente em parte do nosso tempo, cabe replicar e ter consciência nos momentos em que o passado e o futuro passam a nos incomodar sobremaneira.
Quando assistimos um filme que gostamos, nos conectamos com o presente, quando lemos um livro de forma atenta sobre um tema que gostamos, nos conectamos com o presente, quando fazemos sexo, nos conectamos com o presente. A diferença aqui é que estes atos, são muitas vezes feitos no automático, ou seja, você está imerso no presente mas sem se conscientizar a respeito, a partir do momento que entendemos que o presente é tão simples quanto isso, nos conectamos melhor com ele.
Muito se fala em viver no presente, mas é sobre isso que o passado e o futuro nos ensina: felicidade, é traduzir no presente, conhecimento do passado em prol de um futuro melhor. Ruim seria se eu quisesse agir sobre o passado e um futuro sobre o qual não temos controle.
Receita de bolo?
Digo a mim mesmo, que uma grande frustação que tenho é não conseguir transbordar o que acredito com relação a felicidade de forma rápida e simples. Eu mesmo venho me moldando há mais de 8 anos e sempre que paro de ler e estudar a respeito, me pego novamente em devaneio com o passado e com o futuro causando ansiedade e tristeza.
Queria muito, simplificar para mim mesmo e com isso ter uma mensagem embalada para o próximo sobre esta tal felicidade… mas vejo que esta é uma ilusão e quando penso nisso, lembro de uma entrevista que vi no Youtube, cujo o link não tenho mais:
Após 2h de palestra cativante sobre um tema relacionado a vida, o entrevistador me solta: “Podemos portanto entender que a felicidade é X?” e o entrevistado sabiamente responde: “Em 2h eu fiz o meu melhor, eu tentei sumarizar tudo que aprendi em décadas de estudo e sinto me frustrado por não conseguir passar por todos os temas e você quer sumarizar tudo em uma frase?”. Este é o ponto, não dá pra ser raso e pra não ser raso, só nos cabe o estudo.
Esta é a principal conclusão que chego quando penso em felicidade. Há certamente pessoas que nascem naturalmente felizes, que não precisam de estudos para entender o seu comportamento, seus pensamentos, o comportamento e o pensamento dos outros, mas eu não tive a graça de ser como elas, aliás estas pessoas são exceção. Me vem em mente apenas uma pessoa que de fato acredito nasceu com este dom. Para o resto de nós, nos cabe: estudar, estudar, estudar.